Quem é Dom Jaime Spengler, cardeal brasileiro apto a votar no Conclave
21/04/2025
(Foto: Reprodução) Sete cardeais brasileiros estão na lista do Vaticano para participar da eleição que definirá o novo pontífice após a morte do papa Francisco. Dom Jaime recebendo o tradicional chapeu de quatro pontas do Papa Francisco neste sábado (7)
Gregorio Borgia/AP
Sete cardeais brasileiros estão na lista do Vaticano para participar do Conclave, que é a eleição que definirá o novo pontífice. Com a morte do papa Francisco, nesta segunda (21), o processo deve começar em até 20 dias.
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Pelas regras da Igreja Católica, apenas cardeais com menos de 80 anos podem votar. Entre os oito cardeais brasileiros, sete atendem a esse critério, incluindo Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nomeado em 2024 pelo papa Francisco.
Jaime Spengler nasceu em 6 de setembro de 1960, na cidade de Gaspar, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Ele foi o primeiro dos quatro filhos de Genésio Bernardo e Léa Maria Spengler.
Além dele, participam do Conclave outros seis bispos brasileiros.
Sérgio da Rocha, Primaz do Brasil e arcebispo de Salvador, 65 anos.
Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, 75 anos.
Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, 74 anos.
Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, 57 anos.
João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília, 77 anos.
Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, 74 anos.
Perfil
Spengler ingressou, como noviço, na Ordem dos Frades Menores de Rodeio (SC) em 1982. A ordenação do catarinense como padre ocorreu no dia 17 de novembro de 1990, também em Gaspar.
Na carreira acadêmica, Spengler cursou filosofia, no Paraná, e teologia, no Rio de Janeiro e em Jerusalém. O então padre fez doutorado em filosofia em Roma. Como sacerdote, Jaime atuou em diversas cidades do Brasil até 2010.
Em 2010, foi nomeado bispo auxiliar de Porto Alegre pelo então Papa Bento XVI. Um ano depois, foi ordenado bispo em sua cidade natal, Gaspar.
Dom Jaime foi nomeado arcebispo metropolitano de Porto Alegre em 2013, onde vive desde então. O posto foi alcançado após a renúncia de Dom Dadeus Grings, hoje bispo emérito da capital gaúcha. À frente da Cúria, Spengler comanda 158 paróquias da Região Metropolitana.
"Nosso desejo é ir ao encontro das pessoas levando o que nós temos: Jesus. Temos Jesus e seu evangelho", disse, ao tomar posse, em 2013.
Em 2023, o arcebispo foi eleito presidente da CNBB. A eleição foi realizada durante a 60ª Assembleia Geral da instituição, que reúne bispos católicos do país, em Aparecida do Norte (SP). Dom Jaime estará à frente da entidade até 2027. O religioso também preside o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam).
"São serviços que somos chamados a desempenhar e tentamos colaborar onde somos chamados de acordo também com as nossas possibilidades. Não somos super-homens", disse.
Se definindo como um "cataúcho", uma mistura de catarinense e gaúcho, Dom Jaime é torcedor do Internacional.
Dom Jaime Spengler, acebispo de Porto Alegre, ganha camiseta do Internacional
Ronaldo Bernardi/Agência RBS
Possibilidade de ser papa
Em entrevista ao programa "Conversas Cruzadas", de GZH, em dezembro do ano passado, Dom Jaime Spengler disse não pensar em ocupar o maior cargo da Igreja Católica.
"Eu não quero nem pensar nisso. Até porque eu creio que seja talvez um dos lugares, um dos serviços, em termos universais, mais solitários do mundo", respondeu.
Para Dom Jaime, a figura de um papa "representa a comunhão, a unidade da igreja", além da liderança política mundial.
"Mas ao mesmo tempo eu fico imaginando este homem, na função e no reconhecimento de que goza, ele não pode dizer assim: 'hoje à noite eu gostaria talvez de sair ali na rua para tomar um sorvete'. Acabou. Você não se pertence mais", afirmou.
Relembre abaixo a nomeação de Spengler
Dom Jaime Spengler é nomeado cardeal pelo papa
Temas polêmicos
Durante a entrevista ao "Conversas Cruzadas", Dom Jaime Spengler respondeu sobre temas polêmicos para a Igreja Católica.
Questionado sobre o celibato e o casamento de padres, Dom Jaime disse que o debate precisa ser feito dentro da Igreja Católica. Em Porto Alegre, ele promoveu homens casados ao cargo de diáconos, posição anterior à dos padres.
"Eu creio e defendo esta ideia de que nós precisamos avançar, ao menos no debate em torno da questão. Eu não sei se a suspensão do princípio do celibato é o melhor caminho, há expressões inclusive de outras igrejas que optaram por esse caminho e dizem: 'olha, é melhor não ir por essa estrada'", avaliou.
A participação de mulheres no diaconato também foi abordada pelo cardeal. O papa Francisco criou um grupo de estudo para analisar a questão.
"Existem dados históricos que, no início do cristianismo, teria havido uma espécie de ministério diaconal exercido por mulheres. No entanto, isso, historicamente, ainda não está suficientemente claro. Esse é um elemento. Nós, desde 2020 e 2021, iniciamos um processo de escuta de comunidades do mundo inteiro. E, durante esse processo de escuta, veio, sim, fora, uma indicação para avaliar a possibilidade de mulheres serem admitidas ao diaconato", explicou.
Sobre pessoas LGBTQIA+, Dom Jaime Spengler afirma que os integrantes da igreja precisam "escutá-los, escutá-las, acolhê-los e, na medida do possível, integrar na comunidade". Contudo, diferenciou bênçãos dos sacramentos.
"Não podemos comparar uma bênção àquilo que é o sacramento do matrimônio. Nós abençoamos tantas coisas, abençoamos objetos, animais. Se uma pessoa que tem essa tendência me pede uma bênção, por que não? É gente? É pessoa? É filho de Deus? Ou filha de Deus? E por esta condição, merece e talvez precisa, e talvez a bênção pode até ajudar essa pessoa a alargar horizontes, abrir os olhos, se compreender melhor. Por que também não dizer se aceitar melhor? Porque se trata de uma dimensão do humano que, muitíssimas vezes, não foi a pessoa que escolheu. É fruto de um processo natural e isso nem sempre, eu creio, a sociedade compreende suficientemente", disse.
O cardeal Dom Jaime Spengler também falou de ataques de setores conservadores ao papa Francisco.
"A fé cristã nós vivemos em comunidade, não vivemos isoladamente. Sinto que ele entristece isso. Certamente, entristece de um lado e eu diria também nos envergonha, porque significa que temos, talvez, dificuldade de interagir com a diferença, seja de um lado, seja de outro", opinou o religioso.
Sobre a participação dos jovens na igreja, o novo cardeal afirmou que "um dos grandes desafios, eu creio, da igreja na atualidade é a transmissão da fé às novas gerações".
"Como dialogar com essas novas gerações, eu creio que é realmente uma tarefa hercúlea, um desafio enorme que nós temos, sim, que abordar. É verdade também que a juventude tem sede de espiritualidade, de mística", disse.
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